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Você sabe o que é Constelação Sistêmica?

Há uma grande diferença entre fazer constelação e ser um constelador, ou melhor dizendo, facilitador sistêmico. De forma didático, podemos fazer uma analogia com uma cirurgia, onde comparamos o instrumental cirúrgico com a constelação e o cirurgião é aquele que usa todo o instrumental para realizar a cirurgia, assim como o facilitador sistêmico utiliza da ferramenta da constelação. Por essa analogia dizemos que a constelação sistêmica funciona como um bisturi, fazendo um corte preciso e chegando onde se deve chegar trazendo não aquilo que se quer ver, mas aquilo que se é necessário ver, a raiz do problema.

Constelação Sistêmica é uma ferramenta de trabalho terapêutica fenomenológica extremamente importante e muito poderosa, se utilizada por um bom profissional. Nas mãos de um leigo, com certeza será mal utilizada e não trará resultados. Portanto, a constelação é a ferramenta de terapia breve e o facilitador é aquele que sabe utilizar a constelação.

Vamos falar das origens da Constelação Sistêmica. Ela possui várias bases, por exemplo, a Virgínia Satir, da Escultura Familiar, o Jacob Moreno, do Psicodrama e Gregory Bateson, que trouxe o papel da família dentro das dinâmicas que as pessoas carregam e suas doenças. Antigamente essa questão era vista como algo individual, mas o Bateson trouxe sua contribuição ao perceber as dinâmicas familiares que ocorrem e montam aquilo que nós somos, por meio dos modelos que trazemos e que nos ajudam a nos moldar para o mundo aqui fora. O script de nossa vida meio que já predefinido, como um download que baixamos e nos dá informações de quem somos, de como vemos a vida e dos nossos referenciais de casamento, amor, dinheiro, trabalho, etc.

A partir disso entendemos a importância da família. Não importa se você vem de uma família que está estruturada, organizada ou se você vem de uma família caótica, com muitos problemas e conflitos, todo sistema nos compõe e compomos nosso sistema familiar deixando marcas profundas em todos os membros da família.

 Surge então, Bert Hellinger, que traz, dentro dessa dinâmica sistêmica, a Constelação Sistêmica Familiar, como uma ferramenta que nos ajuda muito a fazer diagnóstico e tratamento dos problemas sistêmicos. A base da Constelação são as leis sistêmicas, que são três:

 Lei da Hierarquia – Essa lei diz que quem tem a maior força para conduzir e dar direcionamento para o sistema são os mais velhos, que possuem mais experiência. Os mais novos são a prioridade, são aqueles que precisam ser cuidados para que eles levem o amor e o conhecimento da família para frente. Então os mais antigos são os mais fortes, são os mais velhos e mais experientes. Os adultos devem seguir o modelo dos mais velhos, que com sua sabedoria devem conduzir a família para um mundo mais saudável.

Lei do Pertencimento – Significa que todos os membros da família têm o direito de pertencer, ninguém pode ser excluído do sistema;

Lei do Equilíbrio – É o equilíbrio entre o dar e receber, que pode ocorrer nos relacionamentos entre dois adultos e essas energias precisam estar equilibradas, ou na relação de pais e filhos, onde os pais sempre dão e os filhos sempre recebem. O equilíbrio entre pais e filhos ocorrerá quando os filhos se tornarem pais e passarem a dar para seus filhos, portanto, a energia sempre seguirá esse fluxo.

Quando um sistema familiar é observado, essas três leis darão um referencial muito importante para sabermos se o sistema está saudável ou doentio. Então, Bert Hellinger, criou o trabalho da Constelação Sistêmica Familiar e passou por várias fases, fazendo algumas alterações nesse trabalho. Primeiro ele começou com as Constelações Sistêmicas Familiares na forma original, depois foi para os Movimentos da Alma, passou pelos Movimentos do Espírito e depois surgiram as Novas Constelações, tendo como base a original.

Após, surgiram outros profissionais, que trouxeram benefícios enormes para esse tipo de ferramenta terapêutica. Os três principais foram o Jakob Schneider, a Sieglinde Schneider, que criou o trabalho da Constelação Sistêmica Individual e Gunthard Weber, que começou esse trabalho da Constelação também no mundo organizacional. Suas contribuições foram sem sombra de dúvidas, de grande importância para o mundo das constelações, porque eles estruturaram um curso bem organizado, desenvolvido de forma dística e levando o conhecimento das constelações para o mundo. O primeiro curso de formação que existiu foi aqui no Brasil, foram ministrados esses três grandes professores. Isso ajudou a elevar o trabalho da Constelação Sistêmica, e a fazer com que as pessoas compreendessem as dinâmicas da constelação e o seu grande poder. A princípio o foco é trazer soluções práticas para as famílias e depois seguiu para outros sistemas, como as empresas, a medicina, a psicoterapia, o direito, a pedagogia. Onde há sistemas e dinâmicas de relacionamentos é possível levar os trabalhos das constelações sistêmicas.

JAKOB SCHNEIDER

Formador e Supervisor de Formação Avançada em Constelações Familiares

 

 

 

Há também um casal, Matthias Varga e Insa Sparrer, que trouxeram contribuições para esse mundo, trazendo de forma mais estruturada, o que chamaram de Gramática da Constelação, para ajudar a ter uma visão melhor dos processos sistêmicos que ocorriam nas constelações.

As Constelações Sistêmicas também passaram por diferentes formas de prática, como por exemplo, esse último casal que citamos trabalhava de forma mais estruturada; Bert Hellinger utilizava dinâmicas mais fenomenológicas. Essa estruturação seria como mapear os processos, por exemplo: quem fica ao lado de quem, onde as dinâmicas ocorrem, o grau de importância dos posicionamentos, etc. Dessa forma, foi possível trabalhar na área organizacional e favoreceu, também, o trabalho das Constelações Individuais com Bonecos, que a Sieglinde Schneider começou a fazer. Portanto a constelação passou por muitas modificações e aprimoramentos e hoje, temos muitas vertentes de constelação.

Sobre Consciência Sistêmica. Todos esses modelos, partindo da Constelação Sistêmica Familiar que é a grande origem, as dinâmicas dos Movimentos da Alma, dos Movimentos do Espírito e algumas dinâmicas das Novas Constelações, associadas à visão estruturada do trabalho, à dinâmica organizacional e à Constelação Individual, surge aquilo que podemos chamar de Constelação da Consciência Sistêmica, que tem raízes em todas essas dinâmicas.

A Constelação Sistêmica pode ser feita tanto em grupo, como de forma individual, onde utilizamos, ao invés de pessoas, elementos que representem essas pessoas, que podem ser com bonecos, ancoras de solos, e qualquer elemento que possa representar os membros de uma família.

O cliente trará informações com base em suas observações e dinâmicas que ele tem consciência e, por meio da constelação, é possível ter acesso às informações não-verbais e informações que vêm do mundo do inconsciente. E se observa a raiz do problema. É como um iceberg, onde aquilo que aparece, que emerge, que o cliente vê e fala sobre, só existe porque há uma grande massa de gelo oculta, representadas pelas dinâmicas inconscientes e não-verbais. Portanto, se o profissional não souber trabalhar nesse universo, ele não encontrará os verdadeiros problemas e não conseguirá fazer tratamentos adequados para solucionar o problema do cliente.

O cliente, quando chega, para uma terapia de falia breve, ele sempre trará o problema através de sua perspectiva, aquilo que ele quer que você veja, e vai esconder as sombras, aquilo que ele não quer ou ainda não consegue ver. Todos nós fazemos isso em algumas situações. Na constelação também funciona assim, há dinâmicas que o cliente quer mostrar e há aquelas que ele não quer mostrar, mas que aparecem no sistema em uma constelação.

Mas afinal, o que é Constelação?

Constelação não é religião, não é oráculo, não é espiritismo e não é teatro. Isso precisa ficar muito claro, apesar de algumas pessoas que fazem constelação misturarem esses elementos, nada disso é constelação.

A constelação possui uma série de bases científicas e nessas bases você vai ver: Teoria Geral dos Sistemas, Neurociência, Dinâmicas de Neurônios Espelhos, Genética, Epigenética e Física Quântica, como por exemplo, existe uma dinâmica que chama Emaranhamento Quântico que é muito similar ao Emaranhamento Sistêmico. Há uma outra dinâmica na Física Quântica que diz que, dependendo do ponto de vista do observador, a experiência muda. O cliente, muitas vezes, enxerga a vida dele por um ângulo, fazendo analogia com as formas geométricas, ele diz, por exemplo, que a vida dele é um círculo; o outro cliente pode olhar e falar que a vida dele é um triângulo; outro cliente ainda pode dizer que a vida dele é um quadrado. Cada cliente tem um ponto de vista e o facilitador precisa ver todos os pontos de vista para ter noção do que é o todo (a visão sistêmica da vida). Essa é uma dinâmica muito comum dentro do trabalho de Constelação Sistêmica.

Quando pedimos para o cliente colocar essas informações, do ponto de vista dele, em um campo, pedimos para que ele coloque elementos como: ele adulto, ele criança, os pais, o marido ou a esposa, os filhos, a sexualidade, futuro, passado e objetivos de vida. Ele posiciona da forma que ele sente essa história e o facilitador em posição de neutralidade (sem julgamentos ou projeções) analisará a história por meio das leis sistêmicas, podendo enxergar muitas coisas que estão fora do lugar, funções em desordem. Se o facilitador faz um bom trabalho, tudo aquilo que for feito no campo age no cliente, na essência dele.

 

Para fazer todo esse trabalho, é feita uma análise do campo que leva em consideração quatro tópicos fundamentais:

Posicionamento – A forma que o cliente posiciona os elementos diz muita coisa, dependendo como um está posicionado em relação ao outro.

Distância – O cliente pode colocar um elemento mais perto ou mais longe de outro.

Direcionamento – Para onde o cliente está direcionado, para o futuro, para o passado, para onde ele olha.

Significado – É a visão do cliente sobre diversas coisas, como por exemplo: O que é casamento para ele? O que é sexualidade? O que é função pai e mãe? Qual a diferença de amor entre um casal, dele com os filhos e dele com os pais? Qual a função da sexualidade na vida dele e qual seria a função saudável? O que é morte? O que é vida? O que é futuro e passado? Quais são os objetivos de vida?

A constelação traz muitas informações, mas é o facilitador que saberá ler a constelação, com base em seus conhecimentos e experiências.  É preciso saber captar essas informações, dar o significado e fazer o diagnóstico. É importantíssimo que o facilitador sistêmico saiba o que são funções em ordem, leis dos sistemas, dinâmicas da constelação, para que realmente possa ajudar o seu cliente a identificar o verdadeiro problema e dar uma solução sistêmica.

Desejo que possa ter compreendido um pouco sobre essa ferramenta riquíssima e poderosíssima das constelações sistêmicas. Se precisar um dia, desse tipo de ajuda de terapia breve através das constelações sistêmicas, procure um bom profissional que ele te ajudará a enxergar muitas coisas que você carrega e nem percebe, e não só isso, ajudar você a dissolver seu padrão sistêmico através da tomada se consciência.

A visão sistêmica da vida.

Por: Fernanda Ribeiro

Referencias:

  1. Banmen, J., & Satir, V. (1991). Meditações de Virginia Satir. Sao Paulo: Summus.
  2. GUNTHARD, Weber. O pioneiro na Constelação Organizacional. Ipê Empresarial, 2021.
  3. HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para trabalho com constelações familiares. São Paulo: Cultrix, 2003.
  4. Moreno, J. L. (1991). Psicodrama (A. Cabral, Trad.). São Paulo: Cultrix.                                        
  5. Satir, V. (1983). Conjoint Family Therapy. Palo Alto, CA: Science and Behavior Books.1
  6. SCHNEIDER, Jakob Robert. A prática das constelações familiares. Patos de Minas: Atman, 2007.
  7. Sparrer, I. (2007). Miracle, Solution and System (edition in english). Solutions Books ditora, ‎Solutions Books (13 setembro 2007)

 

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